14 abril 2024

Eu sou Israel

Eu sou Israel e isto não significa estar de acordo com toda a política e atuais políticos no poder no país. É pena que Netanyahu não seja um Yatzhak Rabin, mas foi eleito, será reeleito ou não, julgado se necessário e é possível no país haver manifestações contra o governo sem riscos para a vida económica ou física de cada um.

O conflito com os palestinianos eterniza-se, Israel não é inocente, mas tão pouco o principal responsável. Se em 1949 os “amigos” árabes tivessem permitido a constituição de um estado palestiniano em vez de terem ocupado os territórios, há muito que o assunto estaria encerrado. Mas não. Enquanto os judeus deslocados se integraram no novo estado hebreu, os palestinianos foram colocados em campos de refugiados, já lá vão 3/4 de século! Após um certo tempo razoável, os refugiados retornam se houver condições ou integram-se. Não há justificação racional para permanecem geração após geração assim confinados. Em quantas dezenas de processos, pós-queda dos grandes impérios e constituição de estados nação mais ou menos homogéneos houve deslocações de populações da mesma amplitude e hoje os processos estão cicatrizados?

 Se o Hamas não tivesse sido criado e boicotado o processo de paz em curso, talvez hoje não houvesse guerra. Governando Gaza “tranquilamente”, sem invasor presente, desde 2005, o que é que o Hamas organizou para o martirizado povo palestiniano? Guerra, culminando no vergonhoso ataque de 7/10/2023.

Porque é que a brutalidade da Arábia Saudita no Iémen desde 2015 não suscitou especiais reações, porque é que quando a Rússia arrasou parte da Síria para travar um movimento terrorista, causando largas dezenas de milhares de mortos, isso não casou indignação?

Porque este confronto não é entre mesquitas e sinagogas. Já agora, em Israel existem muçulmanos, mesquitas e partidos árabes representados no Knesset e o recíproco nem de perto nem de longe. O confronto em torno de Jerusalém é entre dois modelos de sociedade e governo. Entre as democracias liberais, onde as pessoas são livres, busca-se a prosperidade e as mulheres não são seres de segunda e as ditaduras repressivas.

Sem pretender justificar ou desculpar todas as reações de Israel, que de certa forma caiu na armadilha que o Hamas preparou em 7/10, este processo não cicatriza porque cada vez que disso se aproxima, alguém vem provocar a reabertura da ferida.

Os drones que passaram a última noite sobre Jerusalém são os mesmos que se lançam sobre Kyiv. A luta é a mesma e eu estou claramente do lado dos países em que os cidadãos (e cidadãs) têm voz e liberdade para a usar.

 

12 abril 2024

Portugal, Portugal


A reversão da alteração do símbolo oficial do país deve ter sido indiscutivelmente saudada e aplaudida por uma larguíssima maioria dos portugueses. Insinuar ou afirmar que é uma cedência à extrema-direita, significando que afinal há uns bons milhões de portugueses potencias seguidores de autoritários putativos Mussolinis ou Pinochets é, de novo, não entender nada.

A versão anterior, um esticar da bandeira do Mali, foi classificada como “inclusiva, plural e laica”. Vamos por partes. Ser inclusivo passa por excluir todas as referencia históricas? Plural? Qual era o singular do anterior? Laico, havia lá antes uma cruz? E se houvesse?

Por esta lógica, todos os países que incluem uma cruz explícita nos seus símbolos, deveriam ter vergonha e rapidamente corrigirem tal erro. Parece que alguns os produtos suíços da Swatch, Tissot e Victorinox à venda nas “arábias” trocaram a infame cruz por outra coisa e que quando o Real Madrid ali se procura promover, corta a cruzita que existe no topo do seu brasão. É este o caminho?

Incluir não é apagar e se não devemos ser louros para não irritar os morenos, se estes podem chocar os ruivos e  .. por aí fora, ficamos com um vazio brutal de identidade que, naturalmente desconforta muita gente. Explicar-lhes que isso é equivalente a ser lamentavelmente xenófobo tem por efeito o pessoal deduzir que se o lamentável não lhes parece, se calhar então são mesmo xenófobos… se é gente tão inteligente que o afirma !

Progresso é avançar num sentido de melhoria. Não é nem devia ser apanágio exclusivo de uma fação ideológica.

09 abril 2024

As alterações das causas


 Citando, disse-se hoje que:

O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH) decidiu nesta terça-feira que o caso dos seis jovens portugueses contra Portugal e outros 31 Estados é inadmissível relativamente à jurisdição extraterritorial dos restantes Estados mencionados no processo no combate às alterações climáticas…

Se é indiscutível que por várias razões devemos ter atenção e frugalidade relativamente à utilização dos recursos do planeta, já começa a ser irritante a facilidade com que se invocam as “alterações climáticas” para justificar tudo e mais alguma coisa.

Relativamente ao caso acima citado, do TEDH, os jovens portugueses terão atribuído às ditas cujas os brutais incêndios de 2017 e respetivas vítimas. Que me lembre, há incêndios florestais desde a década de 70 e a floresta/mato abandonada, limita-se a acumular matéria combustível até arder um dia e não é por um grau a mais ou a menos que as labaredas avançam ou recuam.

Quanto às vítimas, que o envergonhado e sumariamente detalhado monumento acima representado evoca, todos sabemos que há mais de falta de Proteção Civil, Siresp, coordenação e outras razões do que graus a mais.

Não misturem, por favor….

08 abril 2024

Os extremos

Eu ainda sou do tempo em que havia dois partidos do chamado arco da governabilidade que, apesar de algumas diferenças nos seus programas, tinham uma visão consensual sobre o modelo de sociedade e do papel do Estado. As opções eram feitas, mais pela competência das equipas e respetivos líderes do que por opções ideológicas.

Os extremos e seus modelos não entravam nas equações de poder. Do lado esquerdo, haveria ainda no PS memória de 1975 e era patente o “não arrependimento” de quem tinha tentado boicotar a liberdade e a democracia; do lado direito a extrema-direita ideológica pura e dura, à la Mário Machado não tinha e continua a não ter expressão.

Isto mudou com uma nova geração no PS, que não viveu 1975, e que descobriu afinidades com quem é contra a Nato, contra o Euro e o projeto europeu e com simpatias por regimes brutais e iliberais. Esta familiaridade, aliada ao oportunismo de A. Costa, em 2015 fez nascer o conceito de uma tal esquerda em “bloco”, como se houvesse enormes afinidades entre um PS europeu social-democrata e apoiantes de Rússias, Venezuelas, Coreias do Norte, etc.

A incompetência em governar e incapacidade de entender como o eleitorado não aceitava alegremente a impunidade dos casos e casinhos, fez nascer e crescer outro “bloco” – o da contestação pura e dura. Se bem que ao catalogar o Chega, ele fica naturalmente do lado direito, o milhão de pessoas que por eles votou não são potenciais camisas negras, prestes a marchar atrás de uma suástica ou sair à rua para espancar estrangeiros em esquinas sombrias.

É claro que dá jeito associá-lo à extrema-direita tóxica, como forma de o desclassificar, mas a toxicidade do partido não é ideológica. É “pratica”, ou, mais concretamente, num populismo irresponsável e inconsequente, se bem que, infelizmente, não são os únicos irresponsáveis no campeonato. Insistir que a origem e o problema, e sucesso, do Chega está na ideologia da extrema-direita, na xenofobia, racismo e afins, é continuar a não entender nada!


04 abril 2024

E aqui CHEGAmos

Boa tarde a todos. Depois de alguma ausência, justifica-se um pouco de informalidade e, já agora, também, de desculpas pelo atraso.

Vivemos, entretanto, uma campanha eleitoral sob o signo do chega para aqui, não chegues para ali. Questiono-me o que ela teria sido, especialmente da parte do PS, caso não existisse essa coisa em forma de partido. Não prometia grande coisa e pequena coisa gerou.

Alguns disseram que a “culpa” do imbróglio resultante é do PR, por ter dissolvido o Parlamento. Se, efetivamente, a composição da nova assembleia fossa idêntica à anterior, poderíamos ter concluído que Marcelo nos tinha feito perder tempo e energias, mas tamanha mudança, significa que ele tinha razão em pedir aos eleitores para se (r)expressarem e a democracia tem destas coisas – não são as elites que as decidem.

Sobre a representatividade e coesão, podemos questionar se será justo Lisboa e Porto elegerem na ordem das 4 dezenas de deputados cada um e Beja e Bragança três. Já agora, os eleitores das grandes metrópoles conhecem mesmo os seus representantes, para lá dos cabeças de lista e um ou dois mais?

Sobre a (não)personificação e identificação dos eleitores com os candidatos, não deixa de ser curioso que, aqui mesmo ao lado, em Viana do Castelo, o partido anti-anti-sistema tenha elegido o seu cabeça de lista, Eduardo Teixeira, crónico candidato derrotado à Câmara Municipal de Viana do Castelo pelo PSD e muito, muitíssimo gente do sistema… encarta um espírito de rutura? É com ele que vamos “Limpar Portugal” ? Ainda sobre os eleitos pelo Chega é também curioso que o da emigração Europa, escreva e publique em idioma híbrido, 90% português, 10% francês. Sem menosprezo pelos méritos específicos que o senhor possa ter, um deputado devia, no mínimo, expressar-se corretamente na língua de Camões.

Enfim, aqui CHEGAmos e dizem alguns que faltou pedagogia democrática. Ah! Este povinho que se recusa a ouvir e a seguir os grandes educadores iluminados! Recordo-me de uma entrevista do PM cessante em que do alto da sua maioria absoluta ele dizia: . “Habituem-se!” e para quem o fedor que exalava da sua proximidade era coisa de casos e casinhos, que interessavam apenas a uma minoria de comentaristas mexeriqueiros e invejosos.

O crescimento do CHEGA não é salutar e nem é principalmente pela ideologia professada. Em primeiro lugar porque não a tem. Não há consistência ideológica: é contra e a favor do que lhe der jeito e votos ser. Depois, e em boa parte por isso, porque os seus 50 deputados estão longe de ser um grupo com um mínimo de coesão. Aquela coisa em forma de partido tem alguma virtude em dizer o que está mal, de uma forma que outros não o dizem, mas um partido é suposto ser mais do que isso. Coerência e realismo programático não existem, daí que, mesmo expurgando os seus tiques pouco civilizados – vade retro satanás –, não me parece viável nenhuma forma de cooperação institucional séria e consistente com o mesmo.

Quanto ao suposto caráter antidemocrático do mesmo, uma coisa é ser pouco civilizado, outra coisa é não respeitar a vontade popular e, se há algo de antidemocracia, ela estará mais do outro lado da barreira, para quem o voto expresso de um milhão de portugueses é coisa de ignorar – votos e votinhos?

Em resumo, e a coisa não acaba aqui, o curioso é que a estratégia do “cuidado, que vem lobo” tenha efetivamente aberto a porta ao mesmo. No Parlamento atual os partidos do 4º para baixo valem pouco ou nada e com o 3ª não se pode contar. Imbróglio é certo, mas a culpa (principal) vai para…

05 março 2024

Valores mais altos


Esqueçam se a Anita é ou não é bonita, dispensem as favas com chouriço e despeçam-se dos addio, adieu, aufwiedersehen e outros que tais.

Ponham noutra prateleira as melodias bonitinhas e algo melosas das rosas que se dão, das cabanas junto às praias e os convites a vir viver a vida.

Do alto dos seus enérgicos 82 anos, José Cid, parece mais determinado a promover e a recordar um trabalho dos anos 70, discreto, mas que é talvez uma das melhores obras musicais jamais produzidas em Portugal.

Este sábado passado apresentou em Guimarães um espetáculo absolutamente soberbo pela beleza e genialidade dos temas, assim como pela qualidade da execução. Felizmente a RTP esteve lá com uma enorme mobilização de meios e será possível ver no futuro um registo deste memorável serão.

Estou a falar do álbum de rock progressivo (sinfónico?) “10 000 Anos depois entre Vénus e Marte”. É estranho como este trabalho genial não teve um mínimo da projeção merecida. Eu próprio que não sou especialista, mas também não completamente distraído, só o descobri umas boas décadas depois da sua publicação original em 1978.

Acredito que uma boa parte das pessoas que encheram o Multiusos de Guimarães esperaria talvez outro reportório, mas pela reação no final, parecem ter gostado e ainda bem que se enchem grandes salas e se aplaude para lá do pimba … e outras simplicidades em curso.

Tem alguma lógica que nesta fase da vida José Cid se concentre neste legado, tendo também apresentando temas do seu recente álbum “Vozes do Além”, no mesmo registo. Faz sentido que partilhe e nos faça recordar as coisas que fez com um nível de esforço e de qualidade largamente acima do mediano. Obrigado !

E quem quiser ter uma ideia do trabalho original pode espreitar aqui

20 fevereiro 2024

Outro mundo


Há cerca de dois anos, o mundo ocidental alertava para a concentração de forças armadas russas junto à fronteira ucraniana. Por estes lados um exército de “idiotas úteis” desvalorizava e até ironizava, comparando até a credibilidade dessas fontes de informação sobre a Rússia com as profecias de Nossa Senhora de Fátima de há um século atrás.

Hoje vemos a barbaridade que se passa por ali e penso que só podemos lamentar não ter de imediato e radicalmente cortado todos as compras de combustíveis à Rússia, compras que permitiram financiar a destruição de um país inocente e soberano. Guerra é guerra… e mais vale passar um pouco de frio nas casas e abrandamento na indústria, do que ver os blindados e os misseis a ameaçar.

Por estes dias, soubemos da morte do corajoso Alexei Navalny, cujo “crime” foi questionar, denunciar e afrontar o regime de Putin. Infelizmente é só mais um de uma longa lista de vítimas de uma organização assassina. O regime russo atual não é comunista ortodoxo, de forma nenhuma, mas a sua assinatura é muito semelhante à do estalinismo.

Ao mesmo tempo que a Europa se inquieta, e bem, com a subida dos populismos e xenofobismos da extrema-direita, deveria ser também consensual que o nosso mundo, de liberdade e de democracia, com todos os seus defeitos e fragilidades, é felizmente incompatível com a realidade de Moscovo. O voto contra do PC e do BE no Parlamento Europeu de uma resolução de 2019 que equipara o nazismo ao estalinismo e respetivas justificações são eloquentes. Saberão eles que se forem viver para esse outro mundo, além de muitas outras coisas que lhes faltarão, correm o risco grande de acabarem como Navalny se tiverem a coragem de pensar e de expressar o seu pensamento?

06 fevereiro 2024

Refugiados para sempre?


Na recente polémica com a agência da ONU de apoio aos refugiados palestinianos, a UNRWA, tem-se realçado a importância do trabalho humanitário que ela desenvolve, mas também se pode colocar uma questão. Porque é que ela ainda existe hoje e com tamanha importância?

Refugiado é alguém que perdeu a sua casa e condições de vida onde estava estabelecido, foi forçado a deslocar-se para outro lugar, encontrando-se numa situação de fragilidade. Faz sentido beneficiar de apoio e solidariedade nesse momento, mas a lógica é que seja uma situação transitória. Ou há normalização das condições e ele retorna, ou se instala definitivamente algures. Campos de refugiados com gente em condições precárias durante décadas não fazem sentido.

Aqui, estamos a falar de refugiados na sequência da fundação de Israel em 1948! Quantos dos palestinianos atualmente com esse estatuto eram já vivos nessa altura? Dentro do mesmo processo, os judeus que abandonaram as zonas árabes, instalaram-se algures em Israel e reconstruiram as suas vidas. Algumas décadas antes, centenas de milhares de gregos ortodoxos foram obrigados a abandonar a Turquia, quando esta se constituiu, e atravessaram o mar Egeu, mas não ficaram eternamente a viver em campos de refugiados e a chorar a chave da casa perdida. Inúmeros exemplos análogos podem ser encontrados na História.

Obviamente que para quem quer eternizar os conflitos e manter a pressão, dá jeito existirem ainda e sempre “refugiados”. Ajuda a capitalizar as reivindicações e a manter a causa viva. Estes palestinianos estão de certa forma “aprisionados” e, nisto como noutros pontos, vítimas dos defensores de uma certa causa, não necessariamente a que mais lhes interessa.

28 janeiro 2024

Brincar com a justiça


Sou certamente parte de um largo número de portugueses que assistiu atónito às decisões e justificações do juiz Ivo Rosa em abril de 2021, quanto ao que fazer com o processo e julgamento de José Sócrates, especialmente pelos critérios para a contagem da prescrição, (des)valorização seletiva de testemunhas e mais outras bizarrices.

Certo que a aplicação das leis tem detalhes e procedimentos que só os iniciados no tema dominam. No entanto, o resultado terá de ser lógico e entendível pelo cidadão comum, sob o risco de passarmos para o domínio da (in)justiça.

Estes dias, soubemos que a Relação anulou e reverteu uma boa parte das decisões desse abril de 2021. Certo, ficamos com a sensação de mais justiça, mas… quase 3 anos perdidos!? Como é possível que umas simples decisões de um simples juiz, possam ter atrasado um processo desta importância por quase 3 anos. É injusto.

Já vimos que José Sócrates não quer ser julgado, mas não devia ser assim tão simples brincar com a justiça portuguesa. Discursos sobre a necessidade de mudar não faltam, mas uma coisa são discursos, outra são ações. Há mesmo vontade de mudar algo?

25 janeiro 2024

O que se pode fazer pelo país?

Na pré-campanha em curso para as próximas eleições legislativas de março, parece que todos os discursos, estratégias e propostas andam em torno do “quem dá mais?”.

Como se o eleitorado fosse uma trupe infantil e infantilizada, que irá escolher um patrono em função do valor da mesada prometida. Este estado de coisas, e a natureza das exigências que o eleitorado privilegia, faz-me recordar a frase de JF Kennedy, umas décadas atrás, “não perguntem o que o que o vosso país pode fazer por vós; perguntem o que podem fazer pelo vosso país”.

Nos tempos atuais, uma boa parte dos eleitores e nomeadamente os pensionistas, devem entender que já fizeram o que podiam pelo país e que agora o jogo será mais quanto à retribuição potencial. Também os funcionários públicos poderão assumir que, na ausência de uma real meritocracia nas suas carreiras, fazer mais ou melhor não muda nada.

No entanto, e isto é uma sugestão, pensem um pouco menos egoisticamente, pensem no país que vai ficar aí para quem cá fica. Pensem nos vossos filhos que penam em conseguir independência financeira e local próprio para viverem; pensem nos vossos netos que deixaram de ver porque optaram por uma vida mais desafogada a uns milhares de quilómetros de distância. Conseguir melhores condições para eles, não se resolve com leilões de mesadas. Consegue-se com maior criação de riqueza. Era isso que devia estar a ser discutido prioritariamente


21 janeiro 2024

Voos turbulentos


Ao que parece, a turbulência com a gestão e a tutela pública da TAP ainda não terminou. Depois de uma longa, penosa e por vezes caricata comissão parlamentar de inquérito, que supostamente tudo analisou e esclareceu, a defesa apresentada pela própria TAP ao processo que a ex CEO lhe colocou, veio trazer mais alguns fatos e argumentos curiosos…

Em primeiro lugar, ao contrário do que sempre afirmou a tutela, a senhora não seria uma grande gestora e a recuperação da empresa foi mais pelo contexto do que pelo mérito da equipa de gestão. Depois, a CEO ocupava outros cargos incompatíveis com o estatuto a que estava obrigada. Isto constitui motivo para despedimento com justa causa, mesmo tendo sido “descoberto” pela TAP, depois de a ter despedido… aqui não se pode falar de protelamento de decisões, foi agir até antes de conhecer.  Do outro lado, diz-se que essa situação teria sido previamente exposta e autorizada.

Não sei como isto vai acabar, mas uma coisa é certa. Quando o Estado Português quiser contratar um Profissional de primeira água, vai ser muito difícil convencer alguém sério e competente a trilhar caminhos que podem conduzir a estes imbróglios.

Entretanto, enquanto ouvimos loas à fantástica recuperação e rentabilidade da empresa, esta recebe mais 343 milhões de euros do Estado, para aumento do capital social. Estava previsto, aparentemente ainda haverá outro para o próximo ano, mas se as coisas estão a correr tão bem à empresa, o fluxo financeiro não deveria ser no outro sentido?!

19 janeiro 2024

O 25 de Abril no (FC)Porto


 Já tive oportunidade de dizer aí para trás que não me entusiasmo sobremaneira com as quezílias tribais do futebol, que o meu “clube” foi uma herança familiar e que minha vida apenas vi na ao vivo meia partida por eles jogada, há umas boas décadas.

Também já referi que não identifico o espírito e valores da cidade do Porto com os do FCP e, por tudo isso, não tenho muito interesse pela disputa à sucessão de Pinto da Costa.

No entanto…. No discurso de apresentação do candidato André Villas-Boas há uma frase que é má demais a ser verdade: “cortar com o ‘status quo’ existente, onde impera o medo e não se pode exprimir livremente o que se pensa sem ser ameaçado ou censurado”. Isto, a ser verdade, e aparentemente as ameaças de que tem sido alvo o simples candidato vão nesse sentido, não são coisa deste nosso mundo…

50 anos depois, a liberdade do 25 de abril vai chegar ao principal clube da liberal cidade do Porto? Mais vale tarde do que nunca…

18 janeiro 2024

Obrigado, Mr Trump


Quem já passou pelo Irão ou teve algum contacto com Persas, sabe que ali existe uma cultura com um nível muito superior ao que as notícias sobre as suas lideranças e respetivas políticas sugerem. Sabe que há uma grande parte da sua sociedade com vontade de viver em liberdade, com respeito completo pelos direitos humanos, como no mundo ocidental.

Quando foi celebrado o acordo nuclear em 2015, muitos persas e muitas persas rejubilaram pelo que podia ser uma aproximação e um prenuncio de integração do país num mundo mais livre. Posteriormente em 2018, Mr Trump decidiu abandonar esse acordo, por razões de fundo que ignoro, simpatia pelos sauditas…?

O certo é que, apesar dos defeitos e falhas do acordo, este, apesar de tudo, integrava e condicionava minimamente o país. Depois o Irão voltou a ser pária. Hoje o Irão ajuda a Rússia a massacrar a Ucrânia; hoje o Irão xiita apoia ativamente o Hamas, sunita, histórica e financeiramente patrocinado por outros atores. Os seus procuradores Hezbollah e Houthis, estão mais fortes e ativos do que nunca, com estes últimos a porem causa grandes rotas marítimas internacionais e a escalarem o conflito. Não, não há caso para agradecer ao Mr Trump, apenas desejar que este mundo avance noutra direção, mas talvez seja apenas ingenuidade minha.

15 janeiro 2024

O silêncio e o respeito


De há uns anos para cá a fase final da supertaça espanhola é disputada na Arábia Saudita, vá-se lá saber porquê…

No passado dia 10 jogou-se uma das meias-finais entre o Real Madrid e o Atlético de Madrid. Antes do início da partida estava programado um minuto de silencio, em homenagem ao grande futebolista alemão, Franz Beckenbauer, recentemente falecido.

Na prática não foi de todo um minuto de silêncio, dado que as bancadas resolveram assobiá-lo do princípio ao fim. Li, depois, tratar-se de uma questão cultural. Dizem que o silencio pelos mortos não é tradição na região. Pode não ser, mas…

Será tradição pelo menos dos convidados que estavam no relvado e, mesmo não o sendo dos “anfitriões”, o respeito pelas tradições dos outros, especialmente pelo luto alheio, é daquelas coisas que não devia ser necessário muito esforço para respeitar.

Há uns anos estive em Londres em novembro, durante as celebrações do armistício da I Grande Guerra. Com tantos milhares de pessoas na rua, assistir ao silencio absoluto daqueles dois minutos foi uma experiência impressionante. Certamente mesmo para quem não tenha vivido e sentido a guerra, para quem não tivesse o hábito de momento semelhante, não havia alternativa senão ficar imóvel e em… silêncio.

Diferenças culturais… eles compram tudo e não parecem aprender nada.

12 janeiro 2024

Quem chamou a Troika ?


 A esta distância a questão pode parecer irrelevante, mas esta polémica marca um antes e um depois na nossa vida política e (i)maturidade democrática. A polémica nasce na campanha para as legislativas de 2015, onde num debate com Passos Coelho, António Costa tenta colar ao PSD a responsabilidade pela vinda da troika para Portugal e o sofrimento experimentado por muitos portugueses nesse período.

Sabemos que os políticos gostam de criar “narrativas”, mas aquela era tão evidentemente desonesta e claramente não sustentada que parecia apenas fazer cair no ridículo quem a avançava. Tinha sido o próprio PS de A. Costa a levar o país à bancarrota, o programa fora negociado pelo PS e teria sido aplicado por quem quer que seja que estivesse no governo na altura. Quem está nas mãos de credores para as suas necessidades básicas não tem muitas alternativas, nem as pernas dos banqueiros tremem como as dos meninos de coro.

Infelizmente a mensagem pegou. Ainda hoje se associa esses tempos da troika a uma maldade da “direita” e o alívio posterior a um mérito da “esquerda”. Aquilo que poderia ter constituído um crescimento na maturidade política e cívica do país, acabou por ser um retrocesso. Em vez de ter aumentado a consciência de que o importante é permitir a criação de riqueza e o contributo e responsabilização de todos, ficamos com a imagem de que a solução é um partido virtuoso que põe o Estado a resolver de tudo, nacionalizando TAPs, Ctt, grupos de média, salvando tudo o que for mal gerido, já sem falar na animosidade contra o contributo da iniciativa privada em domínios relevantes e carenciados como a educação e a saúde.

Esta suposta virtuosidade é ainda complementada com a demonização da oposição, plena de más intenções, reais ou potenciais. Esta é a herança destes últimos anos. Andamos para trás. Precisamos de cidadãos responsáveis e responsabilizados e não infantilizados, passivamente beneficiando da generosidade de um “Estado” caridoso. A prazo empobrecemos.